És demasiado rápido… para ser rápido

És demasiado rápido… para ser rápido

Andar bem de mota é uma arte, e se em pista isso é verdade, no fora-de-estrada muitos consideramos essa designação um eufemismo.

Afinal de contas, quantas vezes já demos por nós a dizer que este ou aquele piloto fazem algo parecer fácil e sem esforço?

A quantidade de informação que estamos a processar, e a quantidade de movimentos que estamos a fazer em simultâneo são algo digno de qualquer actuação do Cirque du Solei.

No entanto, e ao contrário dos artistas desses palcos, como motociclistas sem formação profissional temos tendência a muitas vezes ficarmo-nos somente por ser “artistas”.

Hoje, vamos falar um pouco sobre um dos problemas mais abrangente do nosso mundo das duas rodas, e ajudar-te a dares um passo em frente na tua performance, como profissional, amador, ou guerreiro de fim-de-semana.

 

A ARTE DE SER PRECISO

Existem algumas características que são semelhantes a todos os grandes pilotos, no entanto, existe uma que me salta sempre a vista, a sua precisão.

Precisão de trajectória, de posição corporal, e de controlo da mota a cada momento.

Essa precisão, ainda que em muitos casos vinda da mais pura aptidão natural, é fruto de um trabalho continuo, uma vez que por muito que se seja naturalmente bom, isso só nos permite evoluir até certo ponto.

 

Imagem de Eli Tomac via redbull.com

 

Na base dessa evolução encontra-se um ponto-chave, e esse é entender que precisão não é só a capacidade de meter a mota no sítio certo e na hora certa, mas como gerir tudo o que está a acontecer para que isso seja possível.

Um dos maiores erros que vejo a nível amador, e mesmo profissional quando se evolui sem a ajuda de treinadores ou instrutores profissionais, é a falta de precisão de movimentos e uma geral falta de compreensão técnica sobre o que isso implica.

Como comunidade aceitamos que ajustar a nossa suspensão 1 ou 2 clics é suficiente para se sentir diferença, e que uma alteração directa de 4 ou 6 clics é provavelmente algo que não faz sentido fazer por ser demasiado de uma só vez.

 

Imagem de motosport.com

 

Aceitamos também sem problema que alterações de pressão de pneus de meio bar são palpáveis, e até que um ou dois centímetros de diferença de altura ao solo ou de altura do banco são alterações que conseguimos sentir imediatamente.

No entanto, na mesma medida que existe uma grande tendência para aceitar a realidade de que pequenas alterações na mota produzem um grande impacto, quando mudamos o foco da mota para nós próprios o mesmo não acontece.

Sistematicamente se vê pilotos a não chegar a executar movimentos, ou a exagera-los para além do necessário por estarem a basear a sua técnica em tentativa e erro, e percepção pessoal do que estão a fazer.

Um bom exemplo de um movimento exagerado é a utilização da técnica de tirar o pé para fora em curva. Um movimento normalmente feito em demasia, e que quando é feito, é num movimento pouco preciso que tende a levar a problemas.

 

Imagem de uma corrida amadora tirada do advrider.com

 

Se esta abordagem para com a condução é suficiente para se agarrar numa mota e se conseguir dar umas voltas, ela começa a apresentar falhas quando queremos aumentar velocidade, segurança, distância, e aplicar técnicas avançadas.

A razão é simples; uma boa técnica é contranatural, e o nosso cérebro sistematicamente engana-nos entre o que pensamos que estamos a fazer e o que está realmente a acontecer.

Gráfico BN EnduroCampGráfico BN EnduroCamp

Isso significa que de uma forma geral, e por uma escolha nossa, estamos a tirar pouco partido da nossa mota, e se para muitos de nós é por estarmos a fazer pouco, para tantos outros é por estarem a fazer demais.

 

O ERRO PROGRESSIVO

Eu sou grande fã do recurso a vídeos e fotos sempre que dou treinos.

Isso permite-me imediatamente mostrar aos meus alunos exactamente o que estão a fazer, e em 9 em cada 10 casos, a surpresa ao verem as imagens é garantida.

Muitos juram que estão a aplicar a técnica certa, no entanto, não só os resultados não o demonstram, como as imagens não metem; algo está errado na técnica, e com recurso às imagens temos uma base para trabalhar.

 

“O que é fantástico com vídeos é que também o podes fazer sozinho durante os teus treinos, e se quiseres, até 31 de Janeiro de 2022 manda-nos as tuas fotos e vídeos para info@bn-endurocamp.com ou por DM para o nosso Instagram para te podermos ajudar com dicas e notas totalmente de borla!”

 

Poucos pilotos a nível mundial são tecnicamente perfeitos na larga maioria do tempo, com a maioria dos atletas de alto nível a cometer alguns erros aqui e ali.

Se isso faz a diferença entre ter um lugar no pódio ou ficar no meio do pelotão, erros sistemáticos são a imagem de marca da larga maioria dos praticantes de fora-de-estrada nas suas mais variadas disciplinas.

Esses erros, por muito instantâneos que sejam têm o péssimo efeito secundário de nos preparar mal para o próximo movimento, o que tende a forçar um novo erro, e isso força uma má posição, que força um novo erro…

 

Imagem de uma corrida amadora tirada do advrider.com com 6 erros técnicos de posição corporal. Consegues identifica quais são?

 

Uma curva mal feita, gera uma má saída de curva, que força uma recta em recuperação, que força a próxima curva ou salto em desequilíbrio, o que força uma má curva e por ai em diante.

Se alguém já jogou snooker ou bilhar, compreende a necessidade de deixar a bola branca bem colocada para não se ter de estar a tentar pela vida meter a bola seguinte de uma péssima posição.

Em pista, ou nos tracks, isso não é diferente, mas a bola branca somos nós.

Em aviação existe algo chamado a cadeia do erro ou modelo do queijo suíço, um conceito que dita que um acidente não ocorre por uma só razão, mas por uma cadeia de erros que quando alinhados produz efeitos por vezes desastrosos.

 

Imagem de comakeit.com

 

Aplicado ao nosso mundo das motas, esses efeitos podem ir desde uma pequena queda sem grande aparato, até uma lesão ou algo pior.

Pela minha experiência como instrutor, o que vejo regularmente é que muitas vezes o que evita um acidente não é sorte, mas a engenharia das motas modernas que permite uma enorme quantidade de erros ao utlizador.

Isso significa não só que não estamos a trabalhar em conjunto com a nossa mota e que não estamos a tirar o máximo de partido dela, mas que a estamos a usar como usámos aquele colega de escola ou trabalho que fez o trabalho todo e nós só metemos o nome no fim.

Como alguém que não gosta muito de deixar a minha segurança ao acaso, nem presa à esperança de que a minha mota me vai sempre salvar, trabalhar sistematicamente técnica e posição corporal é chave para melhorar as minhas hipóteses de voltar a casa inteiro no fim de cada dia.

Se fazer cursos com instrutores profissionais treinados e preparados para ensinar faz toda a diferença, para quem não quer fazer esse investimento, existe uma série de pequenas técnicas que por mais contra naturais que possam parecer vão mudar a tua forma de andar de mota.

PERMITE-TE TEMPO

Se aceitarmos que mexermo-nos demasiado ou fora de tempo em cima da mota é prejudicial, e aceitarmos que erros sistemáticos aumentam a nossa probabilidade de ter um acidente, então a primeira coisa que temos de fazer é aplicar a regra dos 15%.

Quem diz 15%, pode bem dizer 10 ou 20, o que interessa nesta regra é a ideia de diminuir o nosso ritmo de andamento numa percentagem que se sinta, mas que não seja demasiado elevada, como por exemplo 25% tende a ser.

 

Imagem BN EnduroCamp

 

Ao diminuir o ritmo de uma forma consistente, constante, e consciente, vais permitir-te tempo.

Tempo de te preparares melhor em cima da mota para o obstaculo que tens pela frente.

Tempo para respirares e baixares o teu ritmo cardíaco, o que é algo que falaremos noutro artigo.

Tempo para os teus movimentos no acelerador serem mais constantes como uma parábola, e menos de picos como o nosso batimento cardíaco ao ver o estrato bancário no fim do mês.

Tempo para pensares no que vais fazer de forma a reduzir o erro sistemático e a quantidade de erros pontuais.

Apesar de estares efectivamente a ser mais lento, como todos os teus movimentos vão estar mais encadeados, vais efectivamente ser mais rápido no geral, atingindo no limite aquilo que é chamado por “estado de flow”.

A segunda coisa que deves fazer é decidir claramente quando é tempo de treinar e tempo de brincar, competir, ou simplesmente dar um passeio.

Só treinar técnica em prova, pista, ou picado com os amigos é um erro comum entre profissionais e amadores.

Aplicar esse tipo de treino é o mesmo que estudar para um teste, no mesmo momento em que o estás a fazer. 

O sangue frio e a organização cerebral necessária para para lidar com os desafios de andar depressa, e mais ainda, de tentar ser mais rápido do que alguém, mesmo que esse alguém sejamos nós próprios, é imensa.

Isso significa que de forma a podermos operar a esse nível, toda a técnica que temos de saber já têm de estar muito bem organizada no nosso sistema motor.

 

Imagem de mayoclinic.org

 

É aqui que treinar técnicas especificas se torna crucial, e a razão pela qual nós na BN EnduroCamp temos treinos só de curvas, de travagem e das mais variadas técnicas isoladas.

Se queres treinar sozinho, escolhe uma técnica, vamos assumir curvas, escolhe uma curva que gostes ou aches desafiante, e treina as técnicas possíveis nessa curva até à exaustão, seguindo depois para uma curva diferente.

Podes ainda complementar esse treino com exercícios de visualização, em que na tua cabeça vais literalmente simular todo o processo da curva passo por passo. Uma técnica muito utilizada pelos melhores pilotos do mundo como forma de decorar os pontos de cada pista ou de como encadear movimentos.

Garanto que quando estiveres a competir ou estiveres picado com alguém esse treino que foi altamente focado vai fluir naturalmente.

Quando praticas um exercício repetidamente, o teu cerebelo a modos que o condiciona (aprendizagem de memória implícita) e depois as estruturas dos gânglios da base do cérebro coordenam o uso dos mesmos de forma inconsciente e sem uso de muitos recursos, recursos esses que estão agora livres para veres onde a competição está, ou para escolheres a melhor linha.

Ou seja, praticas muito, o cerebelo organiza e arquiva bem essa informação, e quando vais na mota a voar e precisas de reagir, os gânglios da base mandam essa informação para o teu córtex motor extremamente rápido e sem consciência.

Por isso relaxa, desacelera, permite-te tempo porque provavelmente estás a ser demasiado rápido para ser rápido, e vais ver a tua segurança, técnica, conforto, divertimento e velocidade aumentar.

 

Your riding buddy is trying to kill you!


1 comentário

  • olivier marechal

    merçi beaucoup j ai bien aime ton article sur la technique oui comme tu me l as déjà fais faire positionnement du corps super important .également moins de gaz .merçi .
    cette année je vais refaire un stage avec toi .cad en 2022

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