Ainda achas que formação é cara?

Ainda achas que formação é cara?

É comum ouvir dizer que instrução fora de estrada é cara, principalmente as ministradas por instrutores certificados e treinados como formadores, e se não sou ninguém para opinar sobre as finanças de cada um, acho ainda assim que existe a necessidade de pormos os custos de formação em perspetiva.
 
Isto porque num mundo onde o caro e barato é definido pelo valor que damos ás coisas, é importante clarificar o custo-benefício de formação em duas rodas, e isso implica fazermos algumas contas.
 
Neste pequeno artigo, vou fazer exatamente isso, guiar-vos por alguns cálculos que vão por em perspetiva o verdadeiros "dano" que formação faz na carteira.

MATEMÁTICA É UMA CIÊNCIA EXACTA

Não deve ser surpresa para ninguém que existem não só vários tipos de treinadores e instrutores, mas também que cada um deles têm o seu custo e currículo.

Essa realidade é o que faz os valores de treinos irem de pouco mais de vinte euros por umas horas, aos vários milhares de euros por diversos dias de formação.
 
Para os efeitos deste artigo, vou deixar de lado quer a minha opinião sobre o valor que alguns instrutores dão ao seu tempo, trabalho, e conhecimento, tal como ao retorno do investimento que cada aluno têm por escolher este ou aquele treino.
 
Isso porque apesar dessas opiniões estarem muito cimentadas no meu ser, não passam disso, opiniões, e como tal, não são úteis a este artigo que se quer o tão matematicamente correcto quanto possível.
 
Com isso em mente, todos os custos apresentados são valores médios, desde os do material, aos de mota, sem esquecer obviamente, os de formação.

Vamos então considerar alguém que acabou de chegar ao mundo do ADV, ou mesmo do Enduro, e comprou uma mota de 10.000€, e que está a considerar uma formação de 500€.


Existe sem dúvida um argumento muito valido e cientificamente provado sobre a segurança ativa do equipamento de proteção, como por exemplo a visibilidade acrescida de um capacete florescente ou roupas refletoras. No entanto, para o efeito deste artigo, que leva em conta somente fora-de-estrada, vamos descartar estes efeitos, considerando portanto material de proteção como segurança passiva. Imagem mag.sportsbikeshop.co.uk


Se para muitos esse valor de formação é elevado, podíamos directamente dizer que esse custo equivale a apenas 5% do valor investido na mota.

Com esse dado, poderíamos então dizer que 5% seria um pequeno investimento na segurança ativa de cada um, mas destacar somente esse valor seria redutor, pelo que necessitamos de expandir o nosso modelo.

Vamos então assumir que esse novo piloto investiu igualmente 400€ num capacete, 600€ num fato com proteções - ou que comprou proteções avulso acrescendo mais um jersey e calças - umas botas de 250€, e umas luvas de 50€, perfazendo um total de 1.300€ em equipamento de proteção.

Isso significa que este aspirante a aventureiro investiu 13% do valor da mota na sua segurança passiva.

Falando em material de proteção, independentemente de o consideramos como segurança passiva ou ativa, somos obrigados assumir que o mesmo é, ou no mínimo deve ser, substituído em média a cada cinco anos de uso intensivo.
 
Vamos considerar então para este artigo “uso intensivo” como andar com o equipamento vestido duzentos e cinquenta dias por ano.
 
Essa métrica vai significar que o investimento de 13% face ao valor da mota, durante cada bloco de cinco anos de vida útil do material, nos custa pouco mais do que 1€ por dia de investimento na nossa segurança passiva.

Por outro lado, conhecimento adquirido via formação, que é aplicado sempre que se passa a perna por cima de uma mota, não tem vida útil ou declínio temporal, têm ao invés, um crescimento constante por intermédio da experiencia adquirida km após km.

Assim, se assumimos que se vai conduzir durante vinte anos após a compra da mota, fazendo uma utilização intensiva, um investimento único de 5% em formação face ao valor da mota, custará somente 0.10€ por dia ao longo dessas duas décadas de condução.



Nesta simulação foram utilizados os dados descritos no artigo. Se quiseres, envia-nos uma mensagem para te enviarmos este Excel, e poderes fazer a tua própria simulação. Documento BN EnduroCamp


Isso significa que se quisermos fazer um curso de refrescamento para manter proficiência, ou mesmo cursos avançados para se aprender novas técnicas, de dois em dois anos, ao mesmo valor de 500€ por curso, ao longo desses vinte anos de terra, vamos investir 5.000€ na nossa segurança ativa, o que acumulativamente, nos custará 1€ por dia no decorrer dessas duas décadas de aventuras.
 
No espirito da precisão matemática, esse valor de 1€ de formação por dia ao longo de vinte anos é ainda assim inferior ao valor pago ao dia por todo o equipamento de proteção adquirido nessas décadas, que se fica pelos 1.04€.
 
Um valor muito inferior aquilo que muitos facilmente gastam em tabaco, cerveja, ou no seu diário café matinal.

O VALOR É AINDA MAIS BAIXO DO QUE CALCULAMOS

Apesar de os cálculos atrás textualmente demonstrarem que formação apesar de poder ter um valor inicial "elevado", tem na realidade um valor quase negligenciável ao longo do tempo, este está ainda assim inflacionado quando analisado no mundo real.
 
Isto porque se por um lado não introduzimos os custos em extras para a mota - que quase todos os motociclistas facilmente despendem sem pensar duas vezes - por outro, também não considerámos custos de manutenções programadas ou extraordinárias, ou mesmo material de desgaste regular como pneus ou kits de transmissão.

De igual maneira, também assumimos que em duas décadas de terra nunca se trocou de mota, um gasto que só por si vai drasticamente alterar os resultados finais, ou mesmo que nunca precisamos de substituir nenhuma peça do nosso equipamento de proteção pessoal antes dos cinco anos definidos.
 
Dito isto, se aplicássemos todas essas métricas, os valores de formação ficariam ainda mais diluídos, principalmente considerando que são raras as pessoas que fazem uma nova formação a cada dois anos, com a maioria dos que escolhem aprender, a fazer somente um a dois cursos ao longo de toda a sua vida.
 
Com isso em mente, tenho e continuarei a ter dificuldade em ouvir dizer que formação é cara, seja ela a que preço for, porque quando existe efetivamente interesse em aprender como melhorar a nossa segurança e performance, é fácil ver como o investimento em formação não só não é elevado, como é potencialmente o investimento mais barato e com maior retorno que podemos fazer durante toda a nossa vida em duas rodas.
 

 

Your riding buddy is trying to kill you!


1 comment

  • Herlander Aguiar

    O conhecimento é o que mais tem valor. Como a velha questão do mecânico que cobrou 25 euros para “apertar um parafuso”, o valor está no conhecimento adquirido para saber qual o parafuso certo para apertar, e não no tempo que demorou a aperta-lo.
    Investir na formação será sempre um bom investimento ! Claro que existem prioridades, e mentalidades.
    É um verdadeiro prazer seguir este site, a leitura é interessante, acompanhada de factos, e a experiencia dos formadores dá uma perspectiva singular.

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